sábado, junho 21, 2014

Dantes não havia nada, foda-se.

A cena Vintage veio para ficar. Era fácil de gostar de coisas retro. Apelava a valores que achamos que vingavam noutra altura - na prática não fazemos ideia, não acredito que o pão de 1946 fosse melhor que o de hoje - tinha uma estética bem pensada, eram very-tipical.
Mas isto vem de lá-de-fora. Onde há uma tradição de design, do marketing, dos serviços. Há um contraste e há uma história. 
Mas nós sempre fomos retro-vintage. Ou quase, porque no fundo nunca tivemos nada que se assemelhasse ao comércio que agora simulam. Eramos só pouco endinheirados. Aquelas tralhas todas-diferentes-todas-iguais retro vintage que agora ocupam a praça da ribeira, que nivelam tudo por igual nunca foram Portugal. São tiradas do imaginário americano. Onde o Retro convive com milhares de outras coisas. Aqui tudo é retro, tudo é actual, tudo enjoa. Logotipo antigo não é logotipo bom, é só uma visão do antigo. Não passa disso.

Lembrei-me disto porque hoje de tarde passei por 4 VW beatles dos antigos, fila indiana, cada carro descapotavel com uma pessoa só, de boina. Um serviço de turismo, mais um, onde cada um anda num VW à laia de carrinho de choque. Uma pessoa por carro. A ocupar espaço.
Lisboa, especialmente na Baixa, está cheia destes serviços. Que ocupam tudo com histórias que não são as nossas. Nós não tivémos retro nem vintage, só tivemos probreza da boa. Não havia Santinni para pessoas pobres mas honestas. Havia pastéis de bacalhau. Não havia Padaria Portuguesa com bicicletas paradas à porta. Havia alguém a fazer entregas na bicicleta, Lisboa abaixo e acima, de tudo o que calhasse. Era trabalho. Se querem achar que algum tipo de trabalho honesto tem glamour, imaginem o vosso trabalho de hoje a ser descrito com glamour daqui a 80 anos. O meu não tem muito. Depois, os hotéis. Mais que a gentrificação, - é ver como está o Cais do Sodré - a quantidade de hotéis, airbnb's e hostels na Baixa começa a enjoar. A cidade só tem piada se tiver as pessoas dessa cidade a viver lá, e não um aglomerado de quartos para alugar a estender-se desde Alfama até Santos.
Vejo isto, penso na Lisboa do Facebook e da internet, aquela que é a mais bonita da Europa, que tem o melhor qualidade de vida votada por alguém algures, um relações públicas algures encarregue de vender um hotel novo e lembro-me do sul de Espanha, que era um sítio bonito e que foram enchendo com apartamentos à tripa-forra até ao ponto em que milhares de turistas puderam finalmente pagar uns dias de férias com vista para outros apartamentos. E quem lá vivia, foi-se.

1 comentário:

calhou calhar disse...

Outro dia, era uma 6ªfeira ao final da tarde, numa esplanada perto do B.A., (aliás era um dos miradouros), eu e outra pessoa eramos os unicos tugas. A esplanada estava cheia.
Que disneyland...